Já a escola construtivista busca a autonomia de seus alunos, analisando os conflitos como parte essencial da construção da moralidade. Logo, o olhar tradicional em relação aos conflitos é de como resolver tal situação, enquanto o olhar construtivista é voltado para o que podemos aprender com esse conflito.
Atualmente, a maioria das escolas particulares e públicas seguem o sistema tradicional. Assim, não trabalham com relações interpessoais, com a resolução de conflitos e muito menos com a questão ética e moral dos alunos. O conflito é visto como algo a ser evitado. Quando ocorre, logo se pensa em uma resolução rápida que busca amenizar o problema e não desenvolver a autonomia do indivíduo através do conflito. Ou seja, nessas escolas não há sanções por reciprocidade, isto é, as punições aplicadas em nada se assemelham às ‘regras infringidas’. Por exemplo: um aluno mata aula e a escola, como punição, suspende-o das aulas por alguns dias (solução rápida). O correto seria fazê-lo pensar sobre o que o levou aquilo, avaliar até que ponto a escola tem culpa nisso e, até mesmo, fazê-lo assistir mais aulas adicionais como substituição à aula perdida. Com isto, percebe-se que tais escolas fazem censuras e ameaças, muitas vezes aleatórias e convencionais, procurando soluções autoritárias e nem sempre justas, que não fazem sentido ao aluno.
Nesse caso seria necessário explicar ao aluno o princípio de respeito e a importância da aula para que esse fato não venha ocorrer novamente. Conflitos ligados a quebra do respeito, como discutir com um professor e bater em um colega, são resolvidos de maneira prática e rápida, não havendo um diálogo, nem ao menos uma enfatização do princípio desrespeitado. As conseqüências de tais sanções são a relação custo-benefício, a revolta do aluno, o cálculo de risco e a aprendizagem da mentira. Desse modo o aluno nunca alcançará a autonomia se prendendo apenas a regulação externa e não parando para refletir nas reais conseqüências de seus atos.
Para solucionar conflitos, precisamos deixar de agir sobre a conseqüência e sim buscar as causas do ato para, assim, abstrair algum aprendizado moral. O ensino da moral e da ética não deve ser feito apenas pela família, mas também pela escola. O aluno, para atingir a autonomia, precisa compreender os princípios das regras, sendo que existem dois tipos de regras: as convencionais e as morais. As regras convencionais são definidas por um grupo com objetivos específicos, isso torna mais difícil entender seu princípio. Já as regras morais são construídas socialmente baseadas nos princípios éticos, o que torna mais fácil sua compreensão e a define essencial para a convivência do indivíduo.
Os professores devem manter a calma no momento de resolver conflitos, conscientizar-se que o conflito pertence ao aluno e, dessa forma, acreditar na capacidade do mesmo para resolvê-lo. Nesse caso, a função do professor é auxiliar o aluno nessa tarefa assumindo a responsabilidade pela segurança física dos pares, reconhecer e aceitar os sentimentos dos alunos, enfim, o professor tem que dar oportunidades para que os mesmos sugiram soluções.
Para efeito de exemplos práticos, transcrevemos alguns acontecimentos observados em nossos campos de estágio:
Um certo dia, na saída da Escola Municipal Z, três alunos brigam e acabam chutando-se. A professora fica muito nervosa e diz aos três que resolverão a situação no dia seguinte já que está na hora de ir embora. No outro dia a professora proíbe os alunos de participarem da aula de educação física e da oficina de jogos, sem nem ao menos buscar saber o motivo da briga. Os três alunos ficam sentados juntos sem participar dessas atividades, o resultado foi uma nova briga, a atitude da professora é novamente evitar a reflexão sobre o conflito e encerrar logo a situação: ela escreve um bilhete no caderno de cada aluno e pede para que os pais conversem com os filhos em casa.
Na Escola X foi observado um fato interessante sobre a temática: as crianças estavam formando uma fila para entrar na sala de música, quando um garoto quis trocar de lugar com uma colega. Ansioso pela aula, ele empurrou a menina para fora da fila e disse que queria entrar antes. A menina, contrariando minhas expectativas, com uma expressão de muita calma voltou até o menino e indagou em tom sério: “Por que você não me pediu, ao invés de me empurrar?”. O menino, com cara de decepção consigo mesmo, pediu desculpas e fez o que fora sugerido: pediu para passar na frente da fila. Novamente para minha surpresa, a menina concordou com o pedido. Com este caso podemos ver que mesmo crianças ainda novas são capazes de resolver problemas com colegas sem a ajuda imediata de um adulto. Ao adulto coube apenas instrumentalizar as crianças com as idéias de diálogo e respeito mútuos.
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