Um espaço para comentarmos, discutirmos, compartilharmos o que estamos aprendendo no cotidiano das escolas.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Sobre as postagens
Cada vez me surpreendo mais com a qualidade dos trabalhos postados no blog. Sinto-me orgulhosa das produções de vocês. E isso é muito bom.
Os alunos da outra disciplina Educação Especial e Inclusão , que estou ministrando neste semestre, também estão se esmerando. Agora é só comentar mais as idéias e posicionamentos dos colegas.Vamos em frente!
Parabéns!!!
Prof. Maria Teresa
terça-feira, 26 de abril de 2011
Idéias levantadas a partir dos textos: Enigma da Infância (Larrosa), A Crise da Autoridade (Arendt), A Autonomia Moral na Criança (Piaget)
Como pedagogos, colocamos a criança no posto de objeto de nosso estudo e nos dirigimos confiantemente a conhecer a “ciência da infância”. Preocupados em fazer tal ciência, não nos damos conta do que é ter ciência. Acaso temos ciência do mundo da criança, de seu ponto de vista, de suas vontades? Nossa memória de quando fomos crianças pouco nos ajuda nessa hora. Que conhecimento pode conter em uma memória tão vaga e entrecortada? E que comparação pode haver entre a memória de um determinado adulto e o acontecimento de uma determinada criança hoje?
Apesar desse grande abismo (entre a criança que fomos e a criança que encontramos), trabalhamos “para reduzir o que ainda há de desconhecido nas crianças e para submeter o que nelas ainda há de selvagem” (LARROSA). No fundo, nossa vontade de saber mais sobre a criança (principalmente sobre a psicologia da criança) quer saciar a fome de dominação e controle. Conhecer para dominar: velha estratégia de guerra. Carregados dessa mesma sensação de guerra é que muitos professores colocam-se diante do desconhecido; dos desconhecidos alunos.
É nessa hora que os adultos lançam mão de suas armas: teorias, pensamentos, métodos... Lemos tantos adultos relatando suas impressões sobre as crianças, mas não valorizamos a leitura que se pode fazer nos olhos dos novos seres: as crianças, obras inéditas sempre.
Nós é que queremos trazer tudo a eles, dada à fragilidade da criança, à sua ignorância quanto ao nosso mundo. Mundo que já está aqui, equilibrado, assimilado, assentado. São tantas as coisas que nós, adultos, já concebemos! Até a infância, soberbamente, pretendemos ter concluído.
Crianças tanto vêm e vão que as deixamos passar por nós como algo velho, sem mistérios nem segredos. E ainda, pretendemos que elas continuem para nós o nosso “certo” e velho modo de ver o mundo e construir o futuro. Educamos para isso, por causa disso, e por meio disso, pois "a educação tem a ver com a natalidade, com o fato de que constantemente nascem seres humanos no mundo" (ARENDT) e, portanto, um esforço deve ser feito para que se mantenha uma ordem estável e estabilizada, sem incertezas, sem novidades que atrapalham. Ordem para progredir; disciplina para dominar. Logo, educar se torna a busca por um resultado que é previsto antes mesmo de começar.
Então, o planejamento escolar é feito do velho e certo modo esperado, previsível, antes do início das aulas. E um certo dia: o encontro. E do encontro vem os desencontros da vontade do adulto com as vontades da criança. Aparecem os fracassos em sala, a indisciplina, a falta de limites, o desrespeito à autoridade, o desrespeito aos colegas. Nós, quando professores e não mais como estudiosos da infância, nos veremos diante de seres absolutamente indomáveis. E realmente são indomáveis. Quem sabe aí – melhor que seja antes – nos damos conta de que o problema não está no ser de natureza indomável, e sim em ter pretendido domá-lo.
Que indisciplina é essa que tanto queremos combater? Parte da indisciplina vem, de fato, dos resquícios egocêntricos da criança. Mas outra parte das reclamações de indisciplina vem dos resquícios egocêntricos do adulto: que ambiciona controlar o novo, aquietar o espontâneo, proibir o milagre para que o velho mundo - e estritamente o velho mundo - seja aprendido e apreendido. Temos que colocar limites nas crianças? Sim. Mas sem nunca limitá-las a viver de velharias. Na verdade limitá-las de fato é impossível: não dá para conter a força do novo, assim como não se pode esperar respeito à autoridade se esta por sua vez não respeita a atuação da novidade. O professor tem a sensação de perder o controle, mas na verdade o controle do espontâneo nunca foi de seu domínio, enquanto adulto.
“Aí está a vertigem: na maneira como a alteridade da infância nos leva a uma região na qual não regem as medidas de nosso saber e de nosso poder” (LARROSA). E continua: “A criança não é nunca a presa de nosso poder (é o outro que não pode ser submetido), mas, ao mesmo tempo, requer nossa iniciativa; não está nunca no lugar que lhe damos (é o outro que não pode ser abarcado), mas devemos abrir um lugar que a receba”. Mediar sempre, não abandonar nunca. É com essa mentalidade que devemos encontrar-nos para então nos encontrarmos com a criança (“Encontrarmos com”, e não “ir de encontro à”, como domadores de leões ou soldados em guerra).
Nesse encontro, o respeito é mútuo. A autoridade do adulto se firma em sua experiência de mundo velho, e não em sua exigência de conservação do mesmo. No entanto, sem omitir o velho nem esconder quem somos, temos o dever (que não deixa de ser um direito) de apresentar às crianças: “Isto é o mundo” (ARENDT). Assim também, as crianças tem o direito de nos mostrar sua novidade; e por que não, o dever de nos contar o que trouxeram para o futuro, já que deveríamos estar dispostos a nos transformar em direção ao desconhecido.
Talvez seja mais fácil aceitar essa mutualidade de direitos e deveres quando reconhecemos que da infância viva, que nasceu há pouco, não sabemos nada. Das crianças que respiram hoje, é impossível ter uma imagem verdadeira, pois a infância é o verdadeiro, o autêntico. O adulto pode conhecer e descobrir o outro, mas não pode estar no lugar do verdadeiro, do original, do imprevisto.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Produção do Grupo 3
Já a escola construtivista busca a autonomia de seus alunos, analisando os conflitos como parte essencial da construção da moralidade. Logo, o olhar tradicional em relação aos conflitos é de como resolver tal situação, enquanto o olhar construtivista é voltado para o que podemos aprender com esse conflito.
Atualmente, a maioria das escolas particulares e públicas seguem o sistema tradicional. Assim, não trabalham com relações interpessoais, com a resolução de conflitos e muito menos com a questão ética e moral dos alunos. O conflito é visto como algo a ser evitado. Quando ocorre, logo se pensa em uma resolução rápida que busca amenizar o problema e não desenvolver a autonomia do indivíduo através do conflito. Ou seja, nessas escolas não há sanções por reciprocidade, isto é, as punições aplicadas em nada se assemelham às ‘regras infringidas’. Por exemplo: um aluno mata aula e a escola, como punição, suspende-o das aulas por alguns dias (solução rápida). O correto seria fazê-lo pensar sobre o que o levou aquilo, avaliar até que ponto a escola tem culpa nisso e, até mesmo, fazê-lo assistir mais aulas adicionais como substituição à aula perdida. Com isto, percebe-se que tais escolas fazem censuras e ameaças, muitas vezes aleatórias e convencionais, procurando soluções autoritárias e nem sempre justas, que não fazem sentido ao aluno.
Nesse caso seria necessário explicar ao aluno o princípio de respeito e a importância da aula para que esse fato não venha ocorrer novamente. Conflitos ligados a quebra do respeito, como discutir com um professor e bater em um colega, são resolvidos de maneira prática e rápida, não havendo um diálogo, nem ao menos uma enfatização do princípio desrespeitado. As conseqüências de tais sanções são a relação custo-benefício, a revolta do aluno, o cálculo de risco e a aprendizagem da mentira. Desse modo o aluno nunca alcançará a autonomia se prendendo apenas a regulação externa e não parando para refletir nas reais conseqüências de seus atos.
Para solucionar conflitos, precisamos deixar de agir sobre a conseqüência e sim buscar as causas do ato para, assim, abstrair algum aprendizado moral. O ensino da moral e da ética não deve ser feito apenas pela família, mas também pela escola. O aluno, para atingir a autonomia, precisa compreender os princípios das regras, sendo que existem dois tipos de regras: as convencionais e as morais. As regras convencionais são definidas por um grupo com objetivos específicos, isso torna mais difícil entender seu princípio. Já as regras morais são construídas socialmente baseadas nos princípios éticos, o que torna mais fácil sua compreensão e a define essencial para a convivência do indivíduo.
Os professores devem manter a calma no momento de resolver conflitos, conscientizar-se que o conflito pertence ao aluno e, dessa forma, acreditar na capacidade do mesmo para resolvê-lo. Nesse caso, a função do professor é auxiliar o aluno nessa tarefa assumindo a responsabilidade pela segurança física dos pares, reconhecer e aceitar os sentimentos dos alunos, enfim, o professor tem que dar oportunidades para que os mesmos sugiram soluções.
Para efeito de exemplos práticos, transcrevemos alguns acontecimentos observados em nossos campos de estágio:
Um certo dia, na saída da Escola Municipal Z, três alunos brigam e acabam chutando-se. A professora fica muito nervosa e diz aos três que resolverão a situação no dia seguinte já que está na hora de ir embora. No outro dia a professora proíbe os alunos de participarem da aula de educação física e da oficina de jogos, sem nem ao menos buscar saber o motivo da briga. Os três alunos ficam sentados juntos sem participar dessas atividades, o resultado foi uma nova briga, a atitude da professora é novamente evitar a reflexão sobre o conflito e encerrar logo a situação: ela escreve um bilhete no caderno de cada aluno e pede para que os pais conversem com os filhos em casa.
Na Escola X foi observado um fato interessante sobre a temática: as crianças estavam formando uma fila para entrar na sala de música, quando um garoto quis trocar de lugar com uma colega. Ansioso pela aula, ele empurrou a menina para fora da fila e disse que queria entrar antes. A menina, contrariando minhas expectativas, com uma expressão de muita calma voltou até o menino e indagou em tom sério: “Por que você não me pediu, ao invés de me empurrar?”. O menino, com cara de decepção consigo mesmo, pediu desculpas e fez o que fora sugerido: pediu para passar na frente da fila. Novamente para minha surpresa, a menina concordou com o pedido. Com este caso podemos ver que mesmo crianças ainda novas são capazes de resolver problemas com colegas sem a ajuda imediata de um adulto. Ao adulto coube apenas instrumentalizar as crianças com as idéias de diálogo e respeito mútuos.
Moral Autônoma e Heterônoma
Josep Maria Puig em seu livro “A Construção da Personalidade Moral”, levanta os aspectos trabalhados por Piaget na obra “O juízo moral na criança” (1932), sobre a questão da moral autônoma e heterônoma.
O autor traz que de acordo com Piaget, os jovens geralmente experimentam um desenvolvimento da moral que parte de uma moral heterônoma, baseada em relações sociais de coerção até uma moral autônoma, baseada em relações sociais de cooperação.
As relações de coerção ocorrem por meio do respeito unilateral, onde as crianças estão em posição desigual em relação aos adultos. As regras são impostas pelos adultos, são exteriores e muitas vezes não são compreendidas e reconhecidas como válidas. Outra situação que reforça a moral heterônoma nas crianças, é que elas passam por uma fase egocêntrica e não conseguem entender pontos de vista diferentes dos seus.
Ao contrário, a partir das relações de cooperação entre iguais, baseadas na compreensão dos pontos de vista de ambos os lados, é consolidada a moral autônoma. É uma moral baseada no respeito mútuo.
Nessa etapa, as regras são construídas de forma coletiva e cooperativa e assim, são obedecidas, pois não são impostas e sim criadas a partir de concepções do próprio indivíduo.
Vemos dessa maneira a importância do desenvolvimento moral na criança e como o adulto pode influenciar nessa transição da moral heterônoma para a moral autônoma. O adulto, ao se posicionar como um ser superior à criança estabelece regras que muitas vezes não tem sentido e por isso não são cumpridas. Porém, ao estabelecer relações de cooperação com a criança, o adulto estará impulsionando o processo de desenvolvimento da moral autônoma. Isso é o que na maioria das vezes falta nas escolas, um processo conjunto entre professor/aluno de desenvolvimento da moral autônoma.
Este professor para promover uma moral autônoma deve, em primeiro lugar, ter autonomia. Ou seja, ele deve ser um exemplo daquilo que pretende promover, daquilo que ele defende como a maneira mais adequada de educação. O professor só formará um aluno autônomo sendo este um ser dotado de autonomia.
No âmbito da educação promover um ensino que leve os educandos a se tornarem cidadãos autônomos não é uma tarefa fácil, a começar pelo item descrito acima quanto ao professor ter de ser também um ser autônomo, mas também pela tarefa árdua que envolve esta questão de autonomia. Como formar um indivíduo autônomo numa sociedade repleta de seres heterônomos? Como desenvolver autonomia se o que é valorizado é a pessoa que segue aquilo que lhe foi posto da melhor maneira possível (e não questiona se aquilo é bom ou válido para si mesmo)?
Desenvolver a autonomia numa sala de aula é um exercício diário, que precisa contar com o apoio da comunidade escolar e com um embasamento teórico adequado que permita e garanta uma educação autônoma que ultrapasse os muros da escola.
Lia, Rafaela, Flávia e Bianca
Resolução de Conflitos
Os conflitos mais comuns são resolvidos em sala de aula mesmo, com a professora, já aqueles considerados mais graves, são levados para a direção. Certa vez, um aluno bateu em outro na hora do recreio. Ele foi levado para a diretoria (terceirização do conflito) e a professora conversou com a classe a respeito de brigar e bater nas pessoas. O diálogo ocorreu mais ou menos assim:
Profª: - O que vocês pensam que vocês vêm fazer aqui na escola todo dia de manhã? Vocês pensam assim: ah, hoje eu vou à escola para apanhar, ou, hoje eu vou à escola para bater nas pessoas. É isso que vocês pensam antes de vir para a escola?
Aluna: - Não. Eu venho pra escola pra assistir sua aula professora.
Profª: - Pensou se eu também decido bater em vocês para resolver as coisas? Isso ia ser legal? Que confusão não ia ser? Precisamos ter mais respeito com os outros, não devemos brigar e bater no colega, porque isso não é certo e acaba machucando o outro.
Percebe-se que os alunos têm consciência que não se pode bater nos outros, porque quando a professora pergunta eles respondem, mesmo que não falem, eles fazem sim ou não com a cabeça.
Muitos estão na fase heterônoma, onde a regulação do comportamento é controlada por fatores externos (adultos, câmeras, punições), ou seja, os alunos têm consciência da regra, mas só cumpre quando tem um adulto por perto, nesse caso a professora. Como formar um sujeito autônomo? Acredito que esse trabalho deve ser feito constantemente, com a realização de atividades que desenvolvem a prática do respeito mútuo, da cooperação e do companheirismo. É muito importante criar regras para uma boa convivência e fazer isso juntamente com os alunos, pois somente sendo autor e estando de acordo com a regra elaborada, o aluno vai assumir o compromisso de cumpri-la, pois haverá assim, um sentido incorporado à regra.
Entendo a atitude da professora quando ela ignora alguns conflitos, pelo fato de haver uma pressão relacionada com o dever de cumprir com alguns critérios impostos pelo Estado. Há uma rotina, horários, um planejamento a ser dado e como cuidar de questões como a resolução de conflitos (conteúdo que não consta na grade curricular, portanto considerado como algo a parte) se há uma série de conteúdos a serem ensinados?
O conflito é necessário para o desenvolvimento da criança e deve ser trabalhado na escola e não ser omitido ou resolvido rapidamente. Devemos lembrar que a escola é uma instituição formadora, portanto não precisa usar mecanismos de contenção (câmeras e castigos) como forma de vigiar e punir. Outras formas de resolver os conflitos é excluir o aluno em um canto da sala, censurar, ameaçar com provas, transferir o problema para os pais ou para a direção, expulsar o aluno da sala de aula (a exclusão, expulsão do aluno e terceirização do conflito são as formas que observei no estágio). Em um ambiente assim, a dificuldade de criar um sujeito autônomo aumenta.
O estágio é muito importante para termos o contado e analisar os diversos conflitos existentes, para que assim quando assumirmos a responsabilidade de um(a) educador(a) possamos estar preparados para lidar com as situações conflitantes, e fazer o possível para desenvolver a autonomia de nossos alunos.