segunda-feira, 25 de abril de 2011

Moral Autônoma e Heterônoma

Josep Maria Puig em seu livro “A Construção da Personalidade Moral”, levanta os aspectos trabalhados por Piaget na obra “O juízo moral na criança” (1932), sobre a questão da moral autônoma e heterônoma.

O autor traz que de acordo com Piaget, os jovens geralmente experimentam um desenvolvimento da moral que parte de uma moral heterônoma, baseada em relações sociais de coerção até uma moral autônoma, baseada em relações sociais de cooperação.

As relações de coerção ocorrem por meio do respeito unilateral, onde as crianças estão em posição desigual em relação aos adultos. As regras são impostas pelos adultos, são exteriores e muitas vezes não são compreendidas e reconhecidas como válidas. Outra situação que reforça a moral heterônoma nas crianças, é que elas passam por uma fase egocêntrica e não conseguem entender pontos de vista diferentes dos seus.

Ao contrário, a partir das relações de cooperação entre iguais, baseadas na compreensão dos pontos de vista de ambos os lados, é consolidada a moral autônoma. É uma moral baseada no respeito mútuo.

Nessa etapa, as regras são construídas de forma coletiva e cooperativa e assim, são obedecidas, pois não são impostas e sim criadas a partir de concepções do próprio indivíduo.

Vemos dessa maneira a importância do desenvolvimento moral na criança e como o adulto pode influenciar nessa transição da moral heterônoma para a moral autônoma. O adulto, ao se posicionar como um ser superior à criança estabelece regras que muitas vezes não tem sentido e por isso não são cumpridas. Porém, ao estabelecer relações de cooperação com a criança, o adulto estará impulsionando o processo de desenvolvimento da moral autônoma. Isso é o que na maioria das vezes falta nas escolas, um processo conjunto entre professor/aluno de desenvolvimento da moral autônoma.

Este professor para promover uma moral autônoma deve, em primeiro lugar, ter autonomia. Ou seja, ele deve ser um exemplo daquilo que pretende promover, daquilo que ele defende como a maneira mais adequada de educação. O professor só formará um aluno autônomo sendo este um ser dotado de autonomia.

No âmbito da educação promover um ensino que leve os educandos a se tornarem cidadãos autônomos não é uma tarefa fácil, a começar pelo item descrito acima quanto ao professor ter de ser também um ser autônomo, mas também pela tarefa árdua que envolve esta questão de autonomia. Como formar um indivíduo autônomo numa sociedade repleta de seres heterônomos? Como desenvolver autonomia se o que é valorizado é a pessoa que segue aquilo que lhe foi posto da melhor maneira possível (e não questiona se aquilo é bom ou válido para si mesmo)?

Desenvolver a autonomia numa sala de aula é um exercício diário, que precisa contar com o apoio da comunidade escolar e com um embasamento teórico adequado que permita e garanta uma educação autônoma que ultrapasse os muros da escola.

Josep Maria Puig. A construção da personalidade Moral. São Paulo: Editora Ática, 1998

Lia, Rafaela, Flávia e Bianca


Um comentário:

  1. Então quer dizer de acordo com o texto sobre a moral autônoma é baseada no respeito mútuo,na cooperação,onde um professor só formará alunos autônomos se este for dotado de autonomia,não um ditador de regras a serem cumpridas,mas sim questionadas? Vivemos em uma sociedade de seres heterônimos,que aprenderam a viver de forma coercitiva, pois não venceram o egocentrismo da infância,aí só obedecem pela pressão.Comecei a entender o nosso país através deste texto,ou estou equivocada?!

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