segunda-feira, 23 de maio de 2011

Avaliação, planejamento e rotina de sala de aula

A partir de observações e reflexões acerca do estágio que venho realizando em uma sala do 2º ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual, pretendo relacionar as questões referentes à avaliação, à rotina e planejamento das aulas e a disciplina em sala com as práticas que tenho observado.

Sobre a avaliação, vemos que ela faz parte de um processo mais amplo de fracasso escolar, um processo de inclusão ou exclusão dos alunos, que baseados em seu desempenho, são comparados e hierarquizados. Justamente por ser limitadora e não levar em conta diversas questões sociais, econômicas e psicológicas dos alunos, a avaliação pode ser comparada a um funil, que deixa muitos para trás.

A escola deveria ser o lugar das oportunidades, lugar que aproveita de sua multiplicidade para transformar e tocar a vida das pessoas, porém, a realidade que encontramos é bem diferente, como relata Maria Teresa Esteban, “A escola é um espaço caracterizado pela multiplicidade. Experiências, realidades, cosmovisões, objetivos de vida, relações sociais, estruturas de poder, tradições históricas e vivencias culturais diversas se plasmam nos diversos discursos que se cruzam em seu cotidiano, pondo em diálogo conhecimentos produzidos a partir de várias perspectivas. A polissemia surge como um traço marcante das interações estabelecidas e entra em confronto com uma estrutura pedagógica que prevê e propõe o pensamento unívoco.” (ESTEBAN, 2003; p.14)

Ao estabelecer uma rotina única e uma avaliação única, a escola ignora a multiplicidade e o ritmo individual de seus alunos, homogeneizando-os. É a tentativa de uma homogeneidade idealizada, porém, mesmo que ocultamente, as diferenças sempre existirão...ainda bem!

Em meu estágio de Ensino Fundamental o que percebo é justamente essa situação, uma rotina que abarca atividades sem conteúdo e sem sentido, que pouco desafiam os alunos e dessa maneira, a chamada indisciplina passa a fazer parte da sala de aula. O problema sempre está nos alunos! Em compensação, a não realização de atividades interessantes não fazem parte do problema.

Ao chegar à sala a professora começa a aula contando uma história, entretanto, desde o início de minhas visitas, pude perceber que esse momento é pouco valorizado pela professora que apenas conta a história e depois continua a aula, como se aquele momento não tivesse existido. Acredito que o livro, a história, a escrita de uma maneira geral, é algo que muito interessa as crianças nessa fase em que estão aprendendo a ler e escrever, mas da forma como essa prática de leitura ocorre esse interesse acaba sendo mortificado.

Após esse momento de leitura, a professora escreve a data e a rotina do dia na lousa e distribui as folhas de atividades. As atividades são simples, mas algumas crianças não conseguem fazê-las sozinhas e muitas vezes vão até a mesa da professora, que ao corrigir apenas fala: “está tudo errado, sente lá e faça de novo!”

Mas “peraí”...o que está errado?! Os erros não são trabalhados como um estímulo, um desafio, como uma etapa para o “vir a saber” algo e os alunos que não sabem, possuem algum problema como déficit de atenção, por exemplo.

Sem um planejamento adequado, com uma rotina chata (que até eu tenho vontade de dormir na aula) e sem uma proposta de trabalho que leve em consideração as particularidades de cada aluno, a sala de aula vira um caos.

Entendo que minhas observações foram muito duras e tenho total consciência de que só as fiz porque não estou no lugar da professora, contudo, acho importante olhar a prática de maneira crítica, aproveitando os exemplos (positivos e negativos) para a constituição da minha prática futura, que pode vir a servir de exemplo (positivo ou negativo) para outros.

AVALIAÇÃO: uma pratica em busca de novos sentidos. Coautoria de Maria Teresa Esteban. 4. ed. Rio de Janeiro: Epe : DP&A, 2003. 142p.

ESTEBAN, Maria Teresa (autor). O que sabe quem erra?: reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 198p.

O SENTIDO da escola. Coautoria de Regina Leite Garcia, Nilda Alves. 4. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. 150p.

Um comentário:

  1. Quando você escreveu sobre a rotina, lembrei de uma parte do livro ''O sentido da escola'' (pág. 87):
    ''Durante meia hora os alunos fizeram uma redação sob o título 'como eu vejo a copa do mundo'; em seguida, apanharam o caderno de matemática e resolveram uns problemas relacionados à divisão; pausa para o recreio (os alunos voltam muito excitados porque, entre eles, estão fazendo um campeonato de futebol, do qual algumas meninas também estão participando); depois de um descanso com a cabeça na carteira, quando comentam baixinho, com a professora reclamando do barulho, os 'lances' do jogo, trabalharam com o atlas em um mapa sobre a região nordeste; por fim, no final do dia, realizaram no pátio um ensaio de canto do Hino Nacional, para a festa de aniversário da escola que acontecerá daí uma semana''

    Parece com a rotina de muitas escolas né? Os conteúdos são passados totalmente desconectados entre eles, muitas vezes perdendo a oportunidade de se realizar um trabalho mais efetivo e próximo do cotidiano dos alunos.

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