segunda-feira, 23 de maio de 2011

Avaliação


No estágio tive a oportunidade de presenciar a aplicação de provas de matemática. Essas não são elaboradas pela professora, mas sim pela Diretoria de Ensino de Campinas que segue as orientações da Secretaria da Educação do Governo do Estado de São Paulo (a prova tem que ser padronizada para todas as escolas públicas, como uma forma de “justiça”). Como pode alguém que não está em contado com a sala de aula, que não conhece a realidade ali presente, elaborar uma prova? Ainda mais sendo igual para vários alunos que são diferentes em múltiplos aspectos?
Como uma resposta a primeira pergunta apresentarei duas citações: “Com o crescimento da população escolarizada, a avaliação educacional adquire duas funções básicas, de natureza econômica, demarcadas pelas ideologias do progresso e da competição: definição da distribuição dos recursos econômicos as instituições educativas e regulação do acesso dos indivíduos ao mercado de trabalho” (ESTEBAN, 2002) e “a avaliação vai se distanciando do processo ensino/aprendizagem, ressaltando sua função de controle social mediado pela prática pedagógica” (ESTEBAN, 2002). A segunda citação complementa a primeira no sentido de que a avaliação perdeu o seu sentido de colaborar com um aprendizado mais significativo no momento em que adquiriu a função econômica de identificar qual escola se apresenta com melhores rendimentos para assim receber mais recursos financeiros. Ao invés de contribuir igualmente com todas as escolas, a fim de oferecer a igualdade de oportunidade para todos, o benefício não chega ou é insuficiente para aquelas instituições que mais precisam. A igualdade de oportunidade vai contra aos princípios da sociedade capitalista que seleciona e exclui, pois não há lugar para todos no mercado de trabalho, então essa seleção não é natural e sim necessária para manter esse sistema.
O exame escolar padronizado nega as diferenças, a realidade heterogênea, o modo de ser, de ver e compreender o mundo ou o objeto de conhecimento de cada pessoa. As interpretações são múltiplas e esse fato quebra a concepção de que os enunciados são unívocos, pois o sujeito é carregado de singularidades, tem um ponto de vista sobre determinado assunto que não precisa ser igual a do outro. Muitas vezes a resposta dada pelo aluno não é aquela esperada pelo professor(a). Como lidar com a avaliação, qual é o intuito dos(as) professores(as) ao aplicar o exame?
A professora de meu estágio utiliza-se da prova como um diagnóstico. Ela analisa não só o resultado, mas o processo de construção do conhecimento. Pois, às vezes, o aluno consegue expor sua ideia de acordo com o que é proposto, mas não coloca o resultado correto, ou o aluno consegue fazer mentalmente o cálculo, colocando somente o resultado, mas não sabe sistematizar o conhecimento de forma escrita. O interessante e nada mais do que ideal, é que a professora, posteriormente, refaz o exercício com todos na sala para que tirem suas dúvidas quanto à resolução dos problemas matemáticos. Pela prova a professora consegue detectar onde há dificuldades, podendo assim organizar seu ensino trabalhando sobre as mesmas.
Será que se pode medir o conhecimento através de uma prova escrita? Quem pode estabelecer o que é certo ou o que é errado, o que é conhecimento ou o que é ignorância, quem define o saber e o não-saber? O aprendizado é um processo dinâmico sujeito à rupturas, avanços e retrocessos, então como uma prova, com data pré-estabelecida e que tem que ser realizada em um intervalo de tempo, pode garantir o quanto o aluno sabe ou deixa de saber?
Uma mudança no plano avaliativo deve-se começar com a atuação do professor(a). A avaliação deve ocorrer constantemente, através da relação entre professor-aluno. O diálogo é um meio para entender como os alunos aprendem e como se relacionam com o objeto de conhecimento e através da negociação o aluno vai avançando em seu aprendizado que muitas vezes não é o almejado pela norma escolar, mas para ele já é um grande passo. O professor(a) deve valorizar o saber de seus alunos e assumir a heterogeneidade existente. Assim, mesmo que aplique uma mesma prova para todos vai ter consciência que múltiplas interpretações vão surgir.
Para concluir, o professor(a) deve estar atento as singularidades presentes em sala de aula e desenvolver práticas avaliativas diversificadas, buscando incluir a todos no processo de ensino-aprendizagem, com a finalidade de acabar com a competição, a classificação com a atribuições de notas e a conseqüente seleção e exclusão.

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